terça-feira, 4 de setembro de 2012

TANGÍVEL E INTENSO – Sobre o livro “Contos de Amor, de Loucura e de Morte”, de Horacio Quiroga

A literatura sul americana merece ser descoberta! Hoje, comento o livro que me introduziu no universo literário de nossos vizinhos... E alguns dos contos que mais me impressionaram.





Horacio Quiroga nasceu no Uruguai em 1878, mas passou grande parte da vida na Argentina, por isso sua obra é importante para ambos os países. Desde sempre a Morte foi uma presença constante: o pai, o padrasto e a primeira esposa cometeram suicídio; em 1902 matou acidentalmente seu melhor amigo. Sua obra de maior popularidade é, sem dúvida, "Contos de Amor, de Loucura e de Morte", publicado em 1917, uma reunião de contos publicados ao longo de sua vida em revistas argentinas. Admirador de Baudelaire e de Poe, alguns críticos veem semelhanças entre este último e o uruguaio, mas o que difere os dois é o universo de suas obras.



Enquanto que em Poe, a Morte é quase um delírio de uma mente excitada (como no conto "Ligeia"), em Quiroga, ela é realidade, é consciente e se utiliza de meios reais, quase sempre físicas, sendo por vezes cruel, como no conto "O Solitário", centrado no joalheiro Kassim e sua esposa obcecada por joias. “Uma Estação de Amor” pode enganar o leitor com o idílio de Octávio e Lídia, mas a ação verdadeira vem da presença fúnebre da mãe da moça, causada por uma overdose de morfina. A habilidade do autor de revelar o sombrio mesmo em situações corriqueiras prende a atenção, e a cada conto o suspense é assustador. É como um filme, onde o clímax é construído desde as primeiras linhas, o leitor sabe que algo acontecerá, mas não como. E é esse “como” o grande ás de do autor – um exemplo disso é o conto “O Travesseiro de Plumas”. Horror puro.



O autor, Horacio Quiroga.

 A escrita de Quiroga é rápida e crua, não se estende em descrições e a ação corre numa naturalidade que espanta, como em "A Galinha Degolada", seu conto mais famoso. O enredo é angustiante, mas deixa espaço para um sentimento de revolta contra os personagens – no caso, os pais dos garotos, um casal egoísta que trata a filha “normal” com todos os mimos enquanto que os quatro meninos ditos “deficientes” ficam ao deus-dará, sentados ao pé do muro do quintal da residência. O leitor espera a tragédia a cada parágrafo e sabe que ela chegará pelas mãos das quatro crianças, como de fato acontece e de um jeito impressionante. Mesmo que não descreva muito os ambientes dos contos, o escritor uruguaio é intensamente visual, pois é fácil para o leitor imaginar os personagens interagindo uns com os outros, até o ato final.

Horacio Quiroga morreu em 1937, e assim como seu pai, padrasto e a primeira esposa, cometeu suicídio – descobrira que sofria de câncer já em estágio muito avançado. Não querendo prolongar o sofrimento, ingeriu cianureto. Sua vida e sua morte, com tantos altos e baixos, luz e sombra, se parecem com seus contos, assim como a de sua família: anos mais tarde, seus três filhos também seguiram pelo mesmo caminho.



Há outros contos no livro, comentei apenas aqueles que mais gostei. O volume foi editado pela Editora Record (Coleção Grandes Traduções) e também pela Editora Abril (Coleção Clássicos Abril). Se você já leu e gosta de outros contos, comente. Se ainda não leu, não perca a chance! Procure na Biblioteca Pública de sua cidade, em livrarias, sebos ou na internet.

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